terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Fernando Pessoa - Autopsicografia



AUTOPSICOGRAFIA



1-4-1931



O POETA é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.





E os que lêem o que
escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.





E assim nas
calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama o coração.





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